segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

LESÕES NA GINÁSTICA (3)

(CONT)
No estudo referido nos anteriores post, ocorreram mais lesões no membro superior nos praticantes de acrobática (34,7%) e artística (39,7%) relativamente aos de trampolins (15,2%) e rítmica (6,7%) o que se pode explicar pela maior solicitação e exigência a nível técnico e físico dos membros superiores na ginástica acrobática e artística, ao nível dos apoios, recepções com os membros superiores e suporte de carga nos mesmos, o que pode levar a uma maior predisposição à lesão.

A realização de elementos técnicos no solo, como os pinos, flics, rodas, rondadas promove grandes forças de impacto nos membros superiores o que leva a um maior potencial de lesão nos mesmos.

Na acrobática, a sustentação de carga nos membros superiores, sobretudo do “base” na sustentação do volante, assim como a sua impulsão (estafas) para realização de saltos, leva a uma elevada sobrecarga dos membros superiores.




A artística compreende diferentes aparelhos e a utilização dos membros superiores varia em diferentes amplitudes de movimento com exigentes solicitações. É o caso do ombro, que pode variar desde amplitudes de flexão máxima com rotação interna associada em alguns elementos (por exemplo, na barra-fixa ou nas barras assimétricas) até à hiperextensão (por exemplo, nas barras paralelas).A utilização do punho e cotovelo em carga pelos ginastas mais jovens que ainda estão em fase de crescimento, submete as cartilagens de crescimento a cargas consideráveis e assim aumenta a sua predisposição à lesão.

Nos trampolins, os membros superiores são utilizados no take-off do aparelho, na ligação de elementos, sendo fundamental para o equilíbrio e direcção do salto. Na rítmica a exposição das praticantes às lesões do membro superior poderá estar associada à manipulação e lançamento dos aparelhos. Os aparelhos não apresentam um peso siginificativo, no entanto, o seu lançamento constante poderá levar a lesões de sobrecarga dos membros superiores. No entanto, os apoios e forças de impacto dos mesmos tanto nos trampolins como na rítmica são mínimos, podendo explicar o menor número de lesões no membro superior.

No total das lesões, verificou-se que 62,0% das lesões ocorreram pela primeira vez. No entanto, observa-se um valor relativamente elevado de recidivas e lesões crónicas, num total de 20,7% e 17,3% respectivamente. Estes valores (quase 4 em cada 10 ginastas) levam a reflectir quanto ao comportamento dos ginastas e treinadores em situação de lesão.

O regresso ao treino, muitas vezes com elevados níveis de intensidade, em estruturas ainda frágeis e em recuperação, pode levar ao risco de recidiva ou tornar a condição crónica. O treino repetitivo, na presença de sintomas de lesão, pode estar na origem dos elevados níveis de lesões crónicas existentes.

(excertos do artigo in Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto (2007), Vol.1, nº 2: 21-27

Raul Oliveira

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