sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

LESÕES DE SOBRECARGA NO OMBRO DOS TENISTAS (3)


FACTORES DE RISCO ASSOCIADOS A LESÕES NO OMBRO DE TENISTAS
São descritos alguns dos factores riscos que poderão causar lesões no ombro dos tenistas.
A) Uma diminuição da força muscular quer dos rotadores externos do ombro (deltóide posterior, infra-espinhoso e pequeno redondo) quer dos músculos estabilizadores da omoplata (trapézio superior, trapézio inferior, grande dentado), uma alteração na coordenação neuromuscular desses 2 grupos musculares, acompanhada de uma diminuição da flexibilidade dos rotadores do ombro (rotadores internos desenvolvem muito mais força que os rotadores externos) explicam a instabilidade dinâmica da gleno-umeral (Jobe, Tibone, Perry, & Moynes, 1983; Kibler & Safran, 2005) que em alguns tenistas é aumentada também por uma instabilidade passiva devida a laxidão capsulo-ligamentar.


Músculos estabilizadores da omoplata são fundamentais no controle da mobilidade/estabilidade dinâmica do ombro.
Há trabalho especifico para se solicitar de forma adequada estes músculos em sintonia com os restantes músculos do braço

B) Se houver uma retracção da cápsula posterior da articulação do ombro, os rotadores externos e os estabilizadores da omoplata entram em “fadiga” não cumprindo o seu papel estabilizador e de centragem da cabeça umeral dentro da cavidade glenoide. Este factor é ampliado em situações de grande fadiga física e/ou mental.
Esta instabilidade pode originar risco de lesão acrescida no labrum glenoideu e noutras estruturas como o tendão da longa porção do bicípite e a bolsa sub-acromial.



Esta retracção da cápsula posterior associada aos movimentos de serviço/smash onde as acelerações são máximas seguidas da frenagens bruscas que levam a microtraumatismos repetidos durante a fase de desaceleração pode originar, se não for feito um trabalho complementar, à perda da flexibilidade dos rotadores externos limitando objectivamente a amplitude de rotação interna do braço (figura acima)


C) Ratio força/comprimento entre músculos rotadores externos/rotadores internos alterado como efeito de adaptações especificas do treino (Ellenbecker & Roetert, 1999) .

Por exemplo, uma limitação da mobilidade da rotação interna do ombro superior a 25º (glenohumeral internal rotation deficit – GIRD) pode ser um factor de risco potencial de lesão no ombro dos lançadores (Burkhart, Morgan, & Kibler, 2003).
O conjunto destas alterações cinemáticas também altera a mecânica da articulação gleno-umeral podendo originar secundariamente síndromes de conflito sub-acromial e nos casos mais graves lesões do labrum glenoideu.

Neste contexto torna-se necessário uma abordagem multidisciplinar para que as estratégias quer de prevenção quer de intervenção nas lesões sejam eficientes. Essa abordagem deve estar centrada em:
a) avaliação objectiva da postura e dos padrões de movimento utilizados pelo tenista nos diferentes gestos (aqui é muito útil a filmagem para posterior análise);
b) análise das diferentes componentes de força muscular e flexibilidade dos principais grupos musculares envolvidos;
c) conhecimento dos factores de estabilidade articular funcional.


Raul Oliveira, Fisioterapeuta
R´Equilibri_us - Gabinete de Fisioterapia
Av. D. João I, nº 8, Oeiras
309 984 508 / 917231718
Faculdade de Motricidade Humana

ARTIGO DO MÊS (3/2009)

Indications for Surgery in Clinical Outcome Studies of Rotator Cuff Repair
Marx, R.G.; Koulouvaris, P.; Chu, S.K.; Levy, B.A.
Clin Orthop Relat Res (2009) 467:450–456

Abstract:

Full-thickness tears of the rotator cuff are common, but there is no clear consensus regarding indications for rotator cuff surgery.

Because some patients with full-thickness rotator cuff tears who are asymptomatic or symptomatic can be successfully treated nonoperatively, clinical outcome studies of rotator cuff repair should describe the subjects in detail to allow appropriate interpretation of the results. However, we hypothesized the indications for surgery are poorly described in outcome studies of rotator cuff surgery.

We undertook a detailed literature review over 11 years of six major orthopaedic journals to assess whether the indications for surgery were described adequately in studies of rotator cuff repair. Eighty-six papers fit the criteria for the study and were reviewed. Limitations of activities of daily living (31%), failure of nonoperative treatment (52%), duration of nonoperative treatment (26%), and history of nocturnal pain (16%) were reported in a minority of papers overall. The patients' characteristics and indications for surgery were not described in a majority of clinical outcome studies of rotator cuff repair. It is important for these factors to be considered and reported because, without this information, the reasons for and results of rotator cuff repair are difficult to interpret.
Level of Evidence: Level III, prognostic study.

Some key-points

Factors generally believed to affect outcome, and therefore the decision to perform elective rotator cuff repair, include size of the tear, duration of symptoms, failure of nonoperative treatment, duration of nonoperative treatment, nocturnal pain, history of trauma, and limitations of activities of daily living (ADL), not necessarily in that order.
(acrescentava a idade e as exigências funcionais do paciente)

Without detailed knowledge of these factors before surgery, it is difficult to interpret the outcome of the operation.

Nonoperative treatments such as physical therapy, NSAIDs, and steroid injections have beneficial effects for some patients with rotator cuff tears.

Without attempting nonoperative treatment for appropriate patients, there is the potential for patients whose rotator cuff problems could have been improved with nonoperative treatment to have had unnecessary surgery.
(desde que seja uma intervenção adequada à resolução das causas pathomecânicas, fisiopatológicas e disfunções do controle neuromuscular da condição).

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/query.fcgicmd=Retrieve&db=PubMed&dopt=Citation&list_uids=18949526

Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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LESÕES DE SOBRECARGA NO OMBRO DOS TENISTAS (2)

O ombro é especialmente vulnerável pelos movimentos amplos e de grande velocidade a que é sujeito ao mesmo tempo que deve manter a estabilidade dinâmica do segmento e o controle preciso da raquete no momento da pancada da bola.


Todo o corpo está envolvido na criação da energia cinética necessária aos diversos gestos.

A velocidade de rotação do tronco nos tenistas profissionais chega a ser de aproximadamente 350o /seg e no ombro pode atingir os 1700o /seg.

Estes movimentos acontecem num curtíssimo período de tempo (0,4 a 0,6 seg) originando grandes acelerações e desacelerações no ombro (Kibler, 1993).

O ombro é na maioria dos estudos publicados o segmento mais afectado (no membro superior entre 25 e 46% do total de lesões) (Kibler & Safran, 2005) com a patologia da coifa dos rotadores como a lesão mais comum em todas as idades e níveis competitivos.
A patologia da coifa é frequentemente associada aos movimentos repetitivos de elevada velocidade com a mão acima da cabeça.

A pancada de serviço no ténis – todo o membro superior (ombro, cotovelo, antebraço, punho e mão) é sujeito a momentos de força rotacional com acelerações/desacelerações acentuadas


No tenista jovem a patologia da coifa é normalmente secundária a uma instabilidade dinâmica da articulação gleno-umeral (Nirschl, 1988; Paterson & Waters, 2000) com dificuldades em controlar de forma eficiente os elevados momentos de força e velocidades criados em determinados gestos como o serviço, smash ou pancadas de “direita alta”.
No tenista adulto/sénior esta patologia é facilitada pelas alterações degenerativas e por sinais de conflito sub-acromial mais ou menos precoce associados a um deficiente controle escapular (papel importante do trabalho coordenado entre músculos estabilizadores da omoplata e músculos da coifa dos rotadores) e/ou a uma postura mais cifótica da coluna dorsal com anteriorização dos ombros.
Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

LESÕES DE SOBRECARGA NO OMBRO DOS TENISTAS (1)

Maria Sharapova Withdraws from Olympics Because of Shoulder Injury

Maria Sharapova’s lingering shoulder injury has cost her an opportunity to compete for the Olympic gold medal, one of the most prestigious trophies in tennis.
The 2008 Australian Open champion announced on Thursday that she will pull out of next month’s Summer Olympics in Beijing, China. Sharapova withdrew from the Rogers Cup Wednesday evening, shortly after completing her second round match against Marta Domachowska.


After yesterday’s match I knew there was something seriously wrong with my shoulder,” wrote Sharapova on her official website.
“After taking a few different exams and MRI’s this morning, the doctors found two small tears in the tendons of my shoulder. There are so many mixed feelings because last night they were almost positive there was something wrong with my nerve which could have ultimately been much more serious but after the tests this morning, for the first time in a while, they were able to give me a different answer and a different problem.

But on the other hand this is something that needs a lot of time to heal, which really hurts me to say that I have to miss the Olympics.”

The timing is so unfortunate and this makes me more sad than anything,” continued Sharapova.
Her shoulder injury also places her in doubt for the US Open, which begins on August.

Sabemos agora que falhou a competição todo o resto do ano (US Open , Masters) e também não defendeu o titúlo do Australian Open que está a decorrer neste momento. Ao todo são mais de 6 meses ...e parece já estar a treinar mas ainda não competiu ao mais alto nível


Lesões de sobrecarga no Membro Superior

As exigências físicas colocadas ao ombro dos tenistas em termos de coordenação neuro-motora, amplitudes de movimentos solicitadas, cargas impostas e picos de velocidades (aceleração/desaceleração) são particularmente elevadas em determinados gestos como o serviço e o smash.

Todo o braço (cotovelo, antebraço, punho e mão) é também sujeito a momentos de força rotacional - criados pela cadeia cinética que envolve segmentos anatómicos muito mais fortes como a bacia/anca, tronco e cintura escapular – nos momentos das pancadas nas bolas.
Estas forças impostas à extremidade da cadeia cinética geradora do movimento ainda são influenciadas pela tipo de pega (mais “aberta”, mais “fechada”, dimensão do “grip”) e pelos estilos de jogo (Bylak & Hutchinson, 1998).
Os “pares” anca/bacia e coluna lombo-sagrada/tronco são de importância vital no ténis, porque funcionam como o centro de rotação da cadeia cinética dos gestos fundamentais e transmitem as forças geradas nos membros inferiores (acelerando-as) ao ombro e restante membro superior.

Como essa cadeia cinética se inicia nos membros inferiores, o “jogo de pés” é determinante na escolha dos apoios mais eficientes a cada pancada e cada gesto podendo ou não optimizar as forças geradas em cada segmento. Esse “jogo de pés” exige ajustamentos contínuos ao longo de todo a actividade (e não só nos momentos que precedem a pancada), respostas rápidas e eficientes numa dinâmica onde entram os picos de aceleração/desaceleração com mudanças muitas vezes instantâneas de direcção (p.ex no “contra-pé”) aumentando as forças de torsão, shear e de compressão nos segmentos anatómicos do membro inferior (joelho e pé/tornozelo). Estes mecanismos são os responsáveis normalmente por lesões agudas nos membros inferiores.

No tenista sénior ou no adulto com intuitos recreativos, o domínio básico dos gestos técnicos fundamentais, é de primordial importância na prevenção primária da maioria das lesões de sobrecarga do membro superior como as tendinopatias do ombro (coifa dos rotadores) e do cotovelo (“tennis elbow” ou epicondilites e as epitrocleites).

No tenista jovem e/ou de competição, onde esse domínio é um dado mais facilmente adquirido, o risco de lesão está mais associado às elevadas cargas de treino e/ou de competição que em situações de fadiga física e mental geram momentos de menor controle neuromuscular dos segmentos envolvidos (p.ex ombro e cintura escapular) criando um risco acrescido de lesão.
Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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O TRANSPORTE DE MOCHILAS EM JOVENS (3)

Dados de estudos sobre o TRANSPORTE DE MOCHILAS E OS SEUS EFEITOS NA POSTURA, MARCHA E SINTOMAS ASSOCIADOS

A utilização as mochilas escolares como forma de transportar os diversos materiais e os utensílios necessários para a escola é uma prática universal. Quando as mochilas são mal transportadas, e/ou transportam peso a mais, podem influenciar o desenvolvimento físico das crianças e jovens, podendo originar problemas na saúde da coluna e na sua postura.



Quando as crianças transportam mochilas escolares muito pesadas (considerado como aceitável transportar um peso de 10% o peso corporal do indivíduo, Guyer (2001), Iyer (1999), Negrini et al. (1999) Pascoal et al. (1997)) estas tendem a inclinar o tronco para a frente, “enrolando” os ombros também para a frente, devido ao peso da mochila as “puxarem” para trás (existe uma deslocação do centro de gravidade para trás que é proporcional ao peso transportado na mochila), o que coloca demasiado stress na coluna e nos ombros, causando fadiga muscular, elevada tensão nessas regiões e alterações posturais.



Estas posturas adaptativas causam compressão e/ou alterações do alinhamento biomecânico podendo vir a dificultar o metabolismo e a função normal dos discos vertebrais, reduzindo a sua capacidade de amortecimento, a irrigação normal dos músculos vertebrais levando a situações de tensão excessiva e mesmo a contracturas.

Negrini e Carabalona (2002) analisaram os factores escolares, familiares e pessoais que determinam o peso da mochila escolar em 237 crianças italianas do 6º ano (11,6 anos) e verificaram que, 79,1% das crianças sentem que as mochilas escolares são pesadas, causando fadiga em 65, 7% e dores na coluna vertebral em 46,1%. Existe ainda uma associação, mas não directa, entre o peso e a dor na coluna. A fadiga sentida pelas crianças durante o transporte das mochilas escolares pareceu associada à dor na coluna vertebral.

Os autores verificaram também que o sistema escolar (principalmente os professores), as famílias (os pais e as crianças em idade escolar) apresentam um papel muito importante na determinação do peso das mochilas, selecção das melhores mochilas e formas adequadas de transporte.
Este estudo refere que deve existir uma redução do peso transportando pelos estudantes nas suas mochilas, pois este excede proporcionalmente os limites propostos para os adultos.
Wang, Pascoe e Weimar (2001), investigaram o efeito de transportar uma mochila escolar carregada nos padrões de marcha em 30 estudantes.
Dados principais: quando se transporta uma mochila com 15 % do peso corporal existe uma diminuição na velocidade, uma diminuição do tempo de apoio unipodal e um aumento do tempo de duplo apoio na marcha. Os impulsos por passo aumentam significativamente no tempo de duplo apoio e existe uma diminuição significativa do tempo de apoio unipodal.



Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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O TRANSPORTE DE MOCHILAS EM JOVENS (2)

Dados de estudos sobre o TRANSPORTE DE MOCHILAS E OS SEUS EFEITOS NA POSTURA, MARCHA E SINTOMAS ASSOCIADOS

A lombalgia na populações juvenis, é como nos adultos, um fenómeno comum mas geralmente benigno e constitui a expressão da interdependência de uma multiplicidade de “factores de risco” que é necessário identificar, interpretar e compreender.

Investigações produzidas desde 1984 (Salminen, 1984; Fairbank e outros, 1984; Balagué e outros, 1988 e 1994) mostraram que dentro da população juvenil já se encontrava um número significativo de adolescentes com queixas lombares.

A dor na coluna e ombros em jovens adolescentes varia entre os 8% e 74% (Gent e colegas, 2003) e parece estar associada ao transporte de mochilas pesadas.
No estudo feito por Oliveira & Cabri (1999) a prevalência anual de dor lombar em 1139 adolescentes da grande Lisboa entre os 10 e 18 anos, foi de 39,2% e uma grande parte desses sintomas (56,3%) agravava com o transporte das mochilas
Quando cargas excessivas são transportadas por longos períodos de tempo, durante grandes distâncias e por jovens com hábitos sedentários, a coluna compensa de várias formas, provocando fadiga muscular e desgaste das articulações da coluna e caixa torácica (Triano, 2000) o que, a curto ou a longo-prazo, irá produzir sintomas (dor) e/ou alterações posturais.
Pascoe et al (1997) analisaram os diferentes métodos de transportar uma mochila (usá-la num e em ambos os ombros), com 17% do peso corporal, em crianças entre os 11 e os 13 anos e os seus efeitos na postura. Constataram projecção da cabeça para a frente, elevação e rotação interna dos ombros e inclinação do tronco para a frente, tendo contribuído para a diminuição do equilíbrio (ver imagem abaixo).
Estas alterações predispõem a um maior risco de quedas e a disfunções posturais (desvio lateral da coluna, inclinação lateral do tronco para o lado oposto e elevação do ombro quando a mochila é transportada unilateralmente). Estas compensações poderão causar desequilíbrios musculares e danos irreversíveis, se não forem corrigidas e prevenidas precocemente (Pascoe et al, 1997).

Chansirinukore colegas (2001) pretenderam determinar a influência do peso da mochila (15% do peso corporal), a sua posição ao nível da coluna e o tempo de transporte desta, na postura da cervical e dos ombros dos adolescentes,

Concluíram que o transporte da mochila nos dois ombros produz menos alterações nos ângulos medidos, comparativamente ao transporte da mochila num só ombro. Os resultados mostraram diferenças significativas no ângulo craneo-vertebral e na simetria da posição da cabeça quando a mochila pesava 15% do peso corporal comparativamente à ausência de carga.

Estes resultados confirmam as conclusões de Pascoe et al (1997), o que nos sugere que as respostas posturais dos estudantes são sensíveis a cargas iguais ou superiores a 15% do peso corporal.

Estes estudos apontam para que as cargas pesadas (superiores a 15% do peso corporal) têm um efeito significativo no alinhamento postural.

Constatou-se ainda que o ângulo craneo-vertebral diminui depois de as crianças trasnportarem a mochila durante cinco minutos de marcha, o que nos indica que o tempo de transporte de uma mochila influencia a posição do tronco.

Korovessis, Koureas e Zacharatos (2005) realizaram um estudo para verificar a influência do transporte de mochilas ao nível da postura da coluna, dos ombros e do tronco, e ao nível da dor na cervical, na dorsal e na lombar, em 1263 estudantes (12 -18 anos). Concluíram que o transporte de mochilas (particularmente quando transportadas num só ombro) resulta numa alteração da postura do tronco e dos ombros e num aumento da lordose cervical. Para além disso, esse modo de transportar a mochila parece aumentar a dor na coluna dorsal e lombar. Estes autores recomendam, então, o transporte da mochila de forma simétrica, devendo-se usar sempre as duas alças.

Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O TRANSPORTE DE MOCHILAS EM JOVENS (1): EFEITOS NA POSTURA E NA MARCHA

ESTUDO PILOTO: EFEITO DO TRANSPORTE DE UMA MOCHILA ESCOLAR TRADICIONAL COM DOIS NÍVEIS DE CARGA (12,5% E 25% DO PESO CORPORAL DO INDIVÍDUO), NAS VARIÁVEIS CINÉTICAS DA MARCHA (ACTIVIDADE MUSCULAR DO TRONCO E FORÇAS DE REACÇÃO AO SOLO).
Dias, R.; Leal P.; Ferreira, T.D.; Cabri, J.; Oliveira, R.; Faculdade de Motricidade Humana

OBJECTIVO: verificar o efeito que o transporte de uma mochila escolar tradicional, com dois níveis de carga (12,5% e 25% do peso corporal do indivíduo), provoca na actividade muscular do tronco e forças de reacção ao solo.

RELEVÂNCIA: O uso diário de mochilas com peso excessivo, a sua utilização incorrecta, influenciam o desenvolvimento físico das crianças e jovens (Chansirinukor, Wilson, Grimmer & Dansie, 2001) que se encontram na sua fase de formação e maturação, sendo de extrema importância para a diminuição de problemas relacionados com a sua saúde postural com repercussões futuras na vida adulta.

AMOSTRA: Seleccionados por conveniência 5 sujeitos de ambos os sexos, com idades compreendidas entre os 11 e os 13 anos sem história de alterações neuro-músculo-esqueléticas.

MATERIAL E MÉTODOS: Utilizou-se como instrumentos a electromiografia de superfície para a recolha da actividade muscular do tronco e uma plataforma de forças Kistler-9281C para recolha das forças de reacção ao solo (Fx, Fy e Fz). Cada sujeito realizou 11 passagens, iniciando a marcha quer com um pé quer com o outro, sem carga e transportando de forma clássica (apoiada nos 2 ombros) uma mochila tradicional com dois níveis de carga (12,5 e 25% do seu peso corporal com uma sequência aleatória das condições).

ANÁLISE ESTATISTICA: Para se obter as médias e o desvio padrão foi utilizada uma técnica de comparação entre médias, One Way ANOVA- Post Hoc TestSheffe . 2 Related Samples- Wilcoxon Signed Ranks Test com um p menor que 0.05.

RESULTADOS: no período de tempo considerado como geral (0,4s + fase de apoio + 0,4s), os dados mostraram uma diminuição significativa da actividade muscular do músculo multifidus esquerdo (P=0,043) e longo dorsal do tórax direito (P=0,043), quando comparados os valores médios da máxEMG da condição sem mochila com a condição de transporte de carga de 12,5% do peso corporal no primeiro músculo e na comparação efectuada entre a condição sem mochila com a condição de transporte de carga de 25% do peso corporal do indivíduo. Os resultados obtidos na fase de apoio da marcha, mostraram uma diminuição significativa da actividade muscular do músculo multifidus direito e longo dorsal do tórax direito (P=0,043), quando comparada os valores médios da máxEMG da condição sem mochila com a condição de transporte de carga (25% do peso corporal do indivíduo). Encontrou-se um aumento significativo (P=0,043), da componente vertical das forças de reacção ao solo (Fz), quando comparados os valores médios da máxFz e a iFz da situação sem mochila (0%), com ambas as situações de transporte de carga (12,5% e 25% do peso corporal).

CONCLUSÃO: o aumento de carga na mochila escolar tradicional influencia de forma significativa o padrão normal de marcha, pois existe uma tendência para a diminuição da actividade dos extensores da coluna, assim como um aumento da força de impacto ao solo. É necessário a realização de mais estudos sobre esta temática, pois estas alterações cinéticas, numa base diária, podem ter efeitos nocivos no desenvolvimento motor, na saúde e qualidade de vida das crianças e jovens, o que justifica cuidados profilácticos realizados pelos Fisioterapeutas.

Resumo de estudo feito na Faculdade de Motricidade Humana e apresentado no VI Congresso Nacional de Fisioterapeutas em Maio/2005

Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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Faculdade de Motricidade Humana

ARTIGO DO MÊS (2/2009)

Exercise in the treatment of rotator cuff impingement: a systematic review and a synthesized evidence-based rehabilitation protocol.
Kuhn JE.

Journal of Shoulder and Elbow SurgeryVolume 18, Issue 1, January-February 2009, Pages 138-160

ABSTRACT:

A systematic review of the literature was performed to evaluate the role of exercise in treating rotator cuff impingement and to synthesize a standard evidence-based rehabilitation protocol. Eleven randomized, controlled trials (level 1 and 2) evaluating the effect of exercise in the treatment of impingement were identified. Data regarding demographics, methodology, and outcomes of pain, range of motion, strength, and function were recorded. Individual components of each rehabilitation program were catalogued. Effectiveness was determined by statistical and clinical significance. Although many articles had methodologic concerns, the data demonstrate that exercise has statistically and clinically significant effects on pain reduction and improving function, but not on range of motion or strength. Manual therapy augments the effects of exercise, yet supervised exercise was not different than home exercise programs. Information regarding specific components of the exercise programs was synthesized into a gold standard rehabilitation protocol for future studies on the nonoperative treatment of rotator cuff impingement.

Conclusion
this systematic review of the best available evidence for exercise in the treatment of impingement syndrome was able to generate a physical therapy protocol that has been shown to be effective in level 1 and level 2 studies. This evidence-based protocol can be used by clinicians treating impingement syndrome and can serve as a gold standard to reduce variables in future cohort and comparative studies to help find better treatments for patients with this disorder.

Implicações clinicas
Baseado nesta revisão sistemática o autor propõe um protocolo de exercícios - "Evidence-based medicine exercise protocol for impingement syndrome" - que deve ser considerado não como uma receita universal mas com uma matriz com linhas de orientação terapêutica.

Raul Oliveira, Fisioterapeuta
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ARTIGO DO MÊS (2/2009)

Exercise in the treatment of rotator cuff impingement: a systematic review and a synthesized evidence-based rehabilitation protocol


Kuhn, J. E.

J Shoulder Elbow Surg (2009), Vol.18, nº 1: 138-60

Abstract:

A systematic review of the literature was performed to evaluate the role of exercise in treating rotator cuff impingement and to synthesize a standard evidence-based rehabilitation protocol. Eleven randomized, controlled trials (level 1 and 2) evaluating the effect of exercise in the treatment of impingement were identified. Data regarding demographics, methodology, and outcomes of pain, range of motion, strength, and function were recorded. Individual components of each rehabilitation program were catalogued. Effectiveness was determined by statistical and clinical significance. Although many articles had methodologic concerns, the data demonstrate that exercise has statistically and clinically significant effects on pain reduction and improving function, but not on range of motion or strength. Manual therapy augments the effects of exercise, yet supervised exercise was not different than home exercise programs. Information regarding specific components of the exercise programs was synthesized into a gold standard rehabilitation protocol for future studies on the nonoperative treatment of rotator cuff impingement.

LESÕES NA GINÁSTICA (4)

(Conclusão)
No estudo referido nos anteriores post, 24,2% do total de lesões ocorreram na coluna vertebral/tronco
Segundo Caine et al (1996), os ginastas de competição estão mais expostos a lesões da coluna lombar que outros indivíduos não praticantes.




A ginástica exige repetidas posturas de flexão e hiperextensão da coluna durante saltos, recepções e elementos específicos de ginástica que levam a amplitudes extremas. Para agravar todo este quadro, os ginastas estão sujeitos repetidamente a cargas de impacto resultantes de recepções de saltos que são absorvidas pela coluna. A força de impacto pode ser seis vezes o peso corporal do ginasta.


Muitos dos elementos/gestos técnicos realizados são em amplitudes extremas, nomeadamente da coluna vertebral. Isto requer uma hipermobilidade compensatória, para adquirir e realizar determinados exercícios, muitas vezes à custa da perda de estabilidade.
Esta hipermobilidade pode levar a uma sobrecarga do sistema articular que associado a um défice do seu controlo pelo sistema muscular, por alterações ao nível da sua relação força/comprimento e capacidade de activação, pode originar disfunção e mesmo patologia.
Tendo em conta que os ginastas iniciam a sua prática ainda em idades muito jovens, estas alterações vão acontecer ainda na sua fase de crescimento. As crianças com um suporte ósseo ainda em desenvolvimento e cartilagens de crescimento com baixa resistência ao stress repetitivo, pode tornar o adolescente mais susceptível de sofrer lesão.
A ocorrência das lesões deu-se principalmente durante a realização e ligação de elementos técnicos (26,7%), por queda (16,9%) e sobrecarga de treino (15,8%). Estes valores vão de encontro a resultados de outros estudos. Caine et al (1996) referem que um factor que parece estar implicado na ocorrência de lesões é a prática contínua e excessiva de um mesmo exercício/elemento técnico durante uma sessão de treino, pois pode levar a uma diminuição da concentração e da atenção por parte do ginasta.
Conclusão
Variáveis como o tempo de prática, a idade e as cargas de treino parecem aumentar não só a prevalência de lesão, como o risco de sofrer lesão nos ginastas.
A especificidade das modalidades gimnícas requerem um conhecimento e um envolvimento pormenorizado do fisioterapeuta nesta área, onde a intervenção precoce, o tratamento dirigido às necessidades do ginasta e da modalidade e a detecção de factores de risco, são o sucesso para o tratamento e prevenção de lesões.
(excertos do artigo in Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto (2007), Vol.1, nº 2: 21-27

Artigo completo em:
http://www.apfisio.pt/gifd_revista/media/versoes_integrais_pdf/rpfd_pub_jul2007_vol_1_n2.pdf



Raul Oliveira

LESÕES NA GINÁSTICA (3)

(CONT)
No estudo referido nos anteriores post, ocorreram mais lesões no membro superior nos praticantes de acrobática (34,7%) e artística (39,7%) relativamente aos de trampolins (15,2%) e rítmica (6,7%) o que se pode explicar pela maior solicitação e exigência a nível técnico e físico dos membros superiores na ginástica acrobática e artística, ao nível dos apoios, recepções com os membros superiores e suporte de carga nos mesmos, o que pode levar a uma maior predisposição à lesão.

A realização de elementos técnicos no solo, como os pinos, flics, rodas, rondadas promove grandes forças de impacto nos membros superiores o que leva a um maior potencial de lesão nos mesmos.

Na acrobática, a sustentação de carga nos membros superiores, sobretudo do “base” na sustentação do volante, assim como a sua impulsão (estafas) para realização de saltos, leva a uma elevada sobrecarga dos membros superiores.




A artística compreende diferentes aparelhos e a utilização dos membros superiores varia em diferentes amplitudes de movimento com exigentes solicitações. É o caso do ombro, que pode variar desde amplitudes de flexão máxima com rotação interna associada em alguns elementos (por exemplo, na barra-fixa ou nas barras assimétricas) até à hiperextensão (por exemplo, nas barras paralelas).A utilização do punho e cotovelo em carga pelos ginastas mais jovens que ainda estão em fase de crescimento, submete as cartilagens de crescimento a cargas consideráveis e assim aumenta a sua predisposição à lesão.

Nos trampolins, os membros superiores são utilizados no take-off do aparelho, na ligação de elementos, sendo fundamental para o equilíbrio e direcção do salto. Na rítmica a exposição das praticantes às lesões do membro superior poderá estar associada à manipulação e lançamento dos aparelhos. Os aparelhos não apresentam um peso siginificativo, no entanto, o seu lançamento constante poderá levar a lesões de sobrecarga dos membros superiores. No entanto, os apoios e forças de impacto dos mesmos tanto nos trampolins como na rítmica são mínimos, podendo explicar o menor número de lesões no membro superior.

No total das lesões, verificou-se que 62,0% das lesões ocorreram pela primeira vez. No entanto, observa-se um valor relativamente elevado de recidivas e lesões crónicas, num total de 20,7% e 17,3% respectivamente. Estes valores (quase 4 em cada 10 ginastas) levam a reflectir quanto ao comportamento dos ginastas e treinadores em situação de lesão.

O regresso ao treino, muitas vezes com elevados níveis de intensidade, em estruturas ainda frágeis e em recuperação, pode levar ao risco de recidiva ou tornar a condição crónica. O treino repetitivo, na presença de sintomas de lesão, pode estar na origem dos elevados níveis de lesões crónicas existentes.

(excertos do artigo in Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto (2007), Vol.1, nº 2: 21-27

Raul Oliveira

LESÕES NA GINÁSTICA (2)

A ginástica é uma modalidade onde a coordenação, força e equilíbrio se associam à elegância, beleza e harmonia do movimento em que o esforço, dedicação, empenho e poder de sacrifício são requisitos obrigatórios para o sucesso de qualquer ginasta.

Segundo Caine, Caine e Lindener (1996), o número de anos de prática e o início da competição podem ser os principais factores de risco para o desenvolvimento de algumas lesões crónicas. À medida que os ginastas desenvolvem melhor os seus skills, o tempo e intensidade de treino aumentam e consequentemente o tempo de exposição ao risco aumenta e com ele o risco de lesões (McAuley, Hudash, Shilds, Albright, Garrick, Requa e Wallace, 1987).

No estudo citado no post anterior quase metade das lesões (49,6%) ocorreram no membro inferior; 24,7% no membro superior e 24,2% no tronco o que confirma a tendência apontada por outros estudos.

Nos trampolins atingem-se alturas que podem ir até 9 metros, o que leva a um maior risco de lesão do membro inferior em caso de queda ou má recepção. A altura atingida, associada muitas vezes a elevados níveis de dificuldade dos saltos, leva frequentemente a quedas e recepções aparatosas. Uma recepção vinda de um salto, com má execução (falta de rotação), leva a que esta seja realizada com desvios do centro de gravidade, o que pode gerar forças assimétricas e não controladas em diferentes estruturas, como o joelho e/ou a tibio-társica. Este aspecto é agravado, em caso de saltos com piruetas, em que a recepção é muitas vezes realizada com apoio dos pés, mas com o tronco ainda em rotação.

Na Rítmica, é exigido um elevado nível de flexibilidade dos membros inferiores e as ginastas realizam em quase todos os seus esquemas saltos onde é necessária a força, a que associam os elementos gímnicos em amplitudes extremas. Na acrobática também são realizados saltos, embora com menor frequência e em alturas bastante menores. Na artística, estão sujeitos a diferentes recepções dos variados aparelhos e em superfícies diferentes.
A elevada prevalência de lesões articulares poderá ser explicada não só pela exposição às sobrecargas contínuas das estruturas, que levam a lesões de overuse, bem como pelo risco de lesões traumáticas que as modalidades apresentam. Segundo Caine et al (1996) as lesões que acontecem com maior frequência são lesões capsulo-ligamentares por mecanismo de entorse. As lesões musculares e tendinosas podem dever-se às intensas solicitações a que estas estruturas estão sujeitas, em especial na realização de elementos de força, nas lesões musculares, e em situações de overuse, no caso das tendinopatias. Os nossos resultados parecem confirmar no essencial o padrão encontrado nesses estudos.
(excertos do artigo in Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto (2007), Vol.1, nº 2: 21-27
Artigo completo em:
http://www.apfisio.pt/gifd_revista/media/versoes_integrais_pdf/rpfd_pub_jul2007_vol_1_n2.pdf
Raul Oliveira

LESÕES NA GINÁSTICA (1)

Lesões em Ginastas Portugueses de Competição das modalidades de Trampolins, Ginástica Acrobática, Ginástica Artística e Ginástica Rítmica na época 2005/2006

Rêgo, F. ; Reis, M. ; Oliveira, R.

Resumo

Introdução: A ginástica é uma modalidade com elevados níveis de exigência física e psicológica, predispondo os ginastas à lesão.
Objectivos: Determinar a prevalência anual de lesões em ginastas de competição (Trampolins; Ginástica Acrobática; Ginástica Rítmica e Ginástica Artística), a nível nacional; caracterizar o seu padrão de ocorrência, severidade e factores de risco (época 2005/2006).
Relevância: o conhecimento das lesões sofridas na prática da ginástica e factores de risco associados, permite desenvolver estratégias adequadas de prevenção de lesões e gestão desses riscos.
Metodologia: Através de um questionário de auto-resposta validado e testado, recolheu-se informação sobre a caracterização dos ginastas, modalidade praticada e lesões sofridas. Distribuíram-se 991 questionários a 38 clubes de ginástica de todo o país (adesão: 35,2%).
Resultados: De 349 ginastas, 150 sofreram lesões – prevalência anual: 43,0% - mais na Artística (62,7%), relativamente à Acrobática (45,6%) e aos Trampolins e Rítmica (36,2%). O membro inferior foi a região mais lesionada (49,6%), principalmente no joelho, tibio-társica e pé e dedos. Quase 4 em cada 10 (38,8%) das lesões foram recidivas ou crónicas. As lesões do tipo articular foram as mais frequentes. A realização ou ligação de elementos técnicos foram a maior causa de lesão. Os ginastas com mais de 15 anos, com maior tempo de prática e cargas de treino mais elevadas apresentaram maior risco de lesão.
Discussão: Os resultados de prevalência confirmam valores de outros estudos internacionais e sugerem elevado risco de lesões na prática da ginástica, sendo fundamental a intervenção contínua do fisioterapeuta junto dos ginastas.
Conclusão: existe uma elevada prevalência anual de lesões nos ginastas de competição, particularmente na ginástica artística. O aumento da exposição ao risco - mais tempo de prática e mais cargas de treino - nos jovens mais velhos aumenta a probabilidade de ocorrência de lesões.

Palavras-chave: Ginástica; Trampolins; Ginástica Acrobática; Ginástica Artística; Ginástica Rítmica; Lesões; Estudo epidemiológico.


in Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto (2007), Vol.1, nº 2: 21-27

Artigo completo em:
http://www.apfisio.pt/gifd_revista/media/versoes_integrais_pdf/rpfd_pub_jul2007_vol_1_n2.pdf e e poster apresentado no 13ª European Congress of Sports Sciences, Estoril, Julho/2007

Raul Oliveira, Fisioterapeuta

ARTIGO DO MÊS (1/2009)

The Change in the Diffusion of Water in Normal and Degenerative Lumbar Intervertebral Discs Following Joint Mobilization Compared to Prone Lying

Paul F. Beattie, Jonathan W. Donley, Cathy F. Arnot, Ronald Miller
In Journal of Orthopaedic & Sports Physcal Therapy 2009;39(1):4-11

STUDY DESIGN: Prospective, repeated measures obtained under treatment and control conditions.

OBJECTIVES: The purposes of this study were to provide preliminary evidence regarding the immediate change in the diffusion of water in the nuclear region of normal and degenerative lumbar intervertebral discs (IVDs) following a single session of lumbar joint mobilization, and to compare these findings to the immediate change in the diffusion of water following a 10-minute session of prone lying.

BACKGROUND: There is conflicting evidence regarding the effectiveness and efficacy of lumbar joint mobilization. Increased knowledge of the physiologic effects of lumbar joint mobilization can lead to refinement of its clinical application.

METHODS AND MEASURES: A total of 24 people (15 males and 9 females), ranging in age from 22 to 58 years, participated in this study. All subjects had a history of activity-limiting low back pain. Diffusion-weighted magnetic resonance images (DW-MRIs) were obtained immediately before and after a 10-minute session of lumbar joint mobilization. At least 1 month later, a second session was performed in which DW-MRIs were obtained immediately before and after a 10-minute session of prone lying.

RESULTS: Following lumbar joint mobilization, a significant increase (P = .002) in the mean values for diffusion of water was observed within degenerative IVDs at L5-S1 (22.2% increase; effect size, 0.97). Degenerative IVDs at L1-2 to L4-5 and normal IVDs at L1-2 to L5-S1 did not demonstrate a change in diffusion following joint mobilization. Prone lying was not associated with a change in diffusion for normal or degenerative IVDs.

CONCLUSIONS: The stimulus provided by lumbar joint mobilization may influence the diffusion of water in degenerative IVDs at L5-S1; however, these are preliminary findings and the relationship of these findings to pain and function needs further investigation.

LEVEL OF EVIDENCE: Therapy, level 5.

KEY WORDS: back pain, lumbar disc disease, lumbar spine, manual therapy, physical therapy

Clinical Implications: The stimulus provided by lumbar joint mobilization may influence
the diffusion of water in degenerative IVDs at the L5-S1 level.
Cautions: These findings are preliminary and it is not known if they are reproducible in other samples. The relationship between these findings and symptoms of low back pain is not known and must be studied further.

domingo, 25 de janeiro de 2009

LESÕES NA GINÁSTICA

Lesões em Ginastas Portugueses de Competição das modalidades de Trampolins, Ginástica Acrobática, Ginástica Artística e Ginástica Rítmica na época 2005/2006.
Rego, F.; Reis, M.; Oliveira, R.


excertos de artigo publicado na Revista Portuguesa de Fisioterapia no Desporto, vol. 1, nº 2: 21- 27 (disponível online)



Introdução

A ginástica é uma modalidade onde a coordenação, força e equilíbrio se associam à elegância, beleza e harmonia do movimento em que o esforço, dedicação, empenho e poder de sacrifício são requisitos obrigatórios para o sucesso de qualquer ginasta. Segundo Caine, Caine e Lindener (1996), o número de anos de prática e o início da competição podem ser os principais factores de risco para o desenvolvimento de algumas lesões crónicas. À medida que os ginastas desenvolvem melhor os seus skills, o tempo e intensidade de treino aumentam e consequentemente o tempo de exposição ao risco aumenta e com ele o risco de lesões (McAuley, Hudash, Shilds, Albright, Garrick, Requa e Wallace, 1987).

Tipo de estudo e Objectivos

Estudo epidemiológico, descritivo, com o objectivo de caracterizar e descrever os ginastas quanto à ocorrência de lesões na prática da modalidade. A recolha de dados foi transversal e retrospectiva, apelando à memória de 349 ginastas das modalidades de Trampolins (Trampolim, Mini-trampolim, Duplo-mini-trampolim e Tumbling), Ginástica Acrobática, Ginástica Artística e Ginástica Rítmica provenientes de 38 clubes nacionais sobre as lesões sofridas durante a época entre Maio de 2005 e Maio de 2006.


Resultados: sintese
a) Prevalência anual de lesão = 43,0% (150 ginastas sofreram, pelo menos uma lesão). A prevalência anual de lesão foi superior para a modalidade de Ginástica Artística (62,7%), seguida da Acrobática (45,6%) e das modalidades de Trampolins e de Rítmica, ambas com uma prevalência anual de lesão de 36,2%.


b) 284 lesões diferentes, distribuídas por diferentes locais anatómicos. O membro inferior foi a região mais lesionada (49,6%), seguida do membro superior (24,7%), tronco (24,2%). O joelho (12,3%) foi o local anatómico mais lesionado, seguindo-se o pé e dedos (12%) e tornozelo (10,9%).


c) ocorreram mais lesões durante a realização ou ligação de elementos técnicos (26,7%). As quedas foram responsáveis por 16,9% das lesões, enquanto que a sobrecarga foi motivo desencadeador de lesão em 15,8% dos casos.

d) O maior número de lesões ocorreram primeiramente no sistema articular (34,2%), em segundo nas estruturas musculares (27,8%), em terceiro nas estruturas tendinosas (18,8%).

e) 62,0% das lesões ocorreram pela primeira vez, 20,7% foram recidivas de lesões anteriores e 17,3% foram consideradas lesões crónicas. Isto significa que quase 4 em cada 10 das lesões sofridas (38,0%) foram recidivantes ou crónicas.


f) Apesar da maioria das lesões se apresentarem totalmente recuperadas (55,8%), existiu uma elevada percentagem de lesões ainda com sintomatologia (38,0%), e algumas destas não estando em tratamento (25,2%).


g) Os praticantes de Artística apresentaram cerca de 3 vezes mais risco de sofrer lesão que os praticantes de Trampolins e que as praticantes de Rítmica e ainda cerca de 2 vezes mais risco de sofrer lesão que os praticantes de Acrobática.


h) Os ginastas com 15 ou mais anos apresentaram cerca de 3,7 vezes mais risco de lesão que os ginastas com idades até os 14 anos.

i) Os ginastas com um tempo de prática superior a 6 anos, apresentaram cerca de 2,6 vezes mais risco de lesão que os ginastas com tempo de prática até 6 anos.


j) Os ginastas com uma carga horária média de treino semanal superior a 8 horas, apresentaram cerca de 2 vezes mais de probabilidades de sofrerem lesão que os ginastas com uma carga de treino semanal até 8 horas.


Discussão:Os resultados referidos enquadram-se dentro do intervalo de valores apontados por outros estudos realizados a nível internacional, o que confirma que a ginástica é uma modalidade desportiva com um elevado número de lesões.Comprova-se assim a tendência para ocorrerem, mais lesões no membro inferior (49,6%) na prática da ginástica.













Nos trampolins atingem-se alturas que podem ir até 9 metros, o que leva a um maior risco de lesão do membro inferior em caso de queda ou má recepção. A altura atingida, associada muitas vezes a elevados níveis de dificuldade dos saltos, leva frequentemente a quedas e recepções aparatosas. Uma recepção vinda de um salto, com má execução (falta de rotação), leva a que esta seja realizada com desvios do centro de gravidade, o que pode gerar forças assimétricas e não controladas em diferentes estruturas, como o joelho e/ou a tibio-társica. Este aspecto é agravado, em caso de saltos com piruetas, em que a recepção é muitas vezes realizada com apoio dos pés, mas com o tronco ainda em rotação.


Na G Rítmica, é exigido um elevado nível de flexibilidade dos membros inferiores e as ginastas realizam em quase todos os seus esquemas saltos onde é necessária a força, a que associam os elementos gímnicos em amplitudes extremas, repetidas exuastivamente.

Na G. Acrobática também são realizados saltos, embora com menor frequência e em alturas bastante menores.

Na G Artística, os ginastas estão sujeitos a diferentes recepções dos variados aparelhos e em superfícies diferentes.


Houve um maior número de lesões no membro superior nos praticantes de acrobática (34,7%) e artística (39,7%) relativamente aos de trampolins (15,2%) e rítmica (6,7%), o que pode ser explicado pela maior solicitação e exigência a nível técnico e físico dos membros superiores na ginástica acrobática e artística, ao nível dos apoios, recepções com os membros superiores e suporte de carga nos mesmos, o que pode levar a uma maior predisposição à lesão.


A realização de elementos técnicos no solo, como os pinos, flics, rodas, rondadas promove grandes forças de impacto nos membros superiores o que leva a um maior potencial de lesão nos mesmos.


Na acrobática, a sustentação de carga nos membros superiores, sobretudo do “base” na sustentação do volante, assim como a sua impulsão (estafas) para realização de saltos, leva a uma elevada sobrecarga dos membros superiores.


A artística compreende diferentes aparelhos e a utilização dos membros superiores varia em diferentes amplitudes de movimento. É o caso do ombro, que pode variar desde amplitudes de flexão máxima com rotação interna associada em alguns elementos (por exemplo, na barra-fixa ou nas barras assimétricas) até à hiperextensão (por exemplo, nas barras paralelas).


A utilização do punho em carga pelos ginastas mais jovens que ainda estão em fase de crescimento, submete as cartilagens de crescimento a cargas consideráveis e assim aumenta a sua predisposição à lesão.


Nos trampolins, os membros superiores são utilizados no take-off do aparelho, na ligação de elementos, sendo fundamental para o equilíbrio e direcção do salto. Na rítmica a exposição das praticantes às lesões do membro superior poderá estar associada à manipulação e lançamento dos aparelhos. Os aparelhos não apresentam um peso siginificativo, no entanto, o seu lançamento constante poderá levar a lesões de sobrecarga dos membros superiores.No entanto, os apoios e forças de impacto dos mesmos tanto nos trampolins como na rítmica são mínimos, podendo explicar o menor número de lesões no membro superior.


Quase ¼ dos ginastas, sofreram pelo menos uma lesão na coluna e estes valores estão muito próximos, dos valores obtidos para o membro superior. Segundo Caine et al (1996), os ginastas de competição estão mais expostos a lesões da coluna lombar que outros indivíduos não praticantes. A ginástica exige repetidas posturas de flexão e hiperextensão da coluna durante saltos, recepções e elementos específicos de ginástica que levam a amplitudes extremas. Para agravar todo este quadro, os ginastas estão sujeitos repetidamente a cargas de impacto resultantes de recepções de saltos que são absorvidas pela coluna. A força de impacto pode ser seis vezes o peso corporal do ginasta.


Muitos dos elementos/gestos técnicos realizados são em amplitudes extremas, nomeadamente da coluna vertebral. Isto requer uma hipermobilidade compensatória, para adquirir e realizar determinados exercícios, muitas vezes à custa da perda de estabilidade. Esta hipermobilidade pode levar a uma sobrecarga do sistema articular que associado a um défice do seu controlo pelo sistema muscular, por alterações ao nível da sua relação força/comprimento e capacidade de activação, pode originar disfunção e mesmo patologia. Tendo em conta que os ginastas iniciam a sua prática ainda em idades muito jovens, estas alterações vão acontecer ainda na sua fase de crescimento.


As crianças com um suporte ósseo ainda em desenvolvimento e cartilagens de crescimento com baixa resistência ao stress repetitivo, pode tornar o adolescente mais susceptível de sofrer lesão.


A elevada prevalência de lesões articulares poderá ser explicada não só pela exposição às sobrecargas contínuas das estruturas, que levam a lesões de overuse, bem como pelo risco de lesões traumáticas que as modalidades apresentam. Segundo Caine et al (1996) as lesões que acontecem com maior frequência são lesões cápsulo-ligamentares por mecanismo de entorse. As lesões musculares e tendinosas podem dever-se às intensas solicitações a que estas estrututas estão sujeitas, em especial na realização de elementos de força, nas lesões musculares, e em situações de overuse, no caso das tendinopatias. Os nossos resultados parecem confirmar no essencial o padrão encontrado nesses estudos.


Verificou-se que 62,0% das lesões ocorreram pela primeira vez. No entanto, observa-se um valor relativamente elevado de recidivas e lesões crónicas, num total de 20,7% e 17,3% respectivamente. Estes valores levam a reflectir quanto ao comportamento dos ginastas e treinadores em situação de lesão. O regresso ao treino, muitas vezes com elevados níveis de intensidade, em estruturas ainda frágeis e em recuperação, pode levar ao risco de recidiva ou tornar a condição crónica. O treino repetitivo, na presença de sintomas de lesão, pode estar na origem dos elevados níveis de lesões crónicas existentes.


Os resultados obtidos mostram que o aumento do número de anos de treino e o aumento da carga de treino promove um maior risco de lesão em ginastas de competição. Os ginastas mais velhos apresentaram uma maior carga de treino semanal e um maior tempo de prática da modalidade, o que pode explicar o maior número de lesões com o aumento da idade. Para além disso, realizam exercícios e gestos técnicos com níveis de dificuldade mais elevados, estando sujeitos a um maior risco de lesão.


Conclusão
Este estudo revelou uma elevada prevalência de lesão (43%) nos ginastas de competição, sendo o membro inferior a região anatómica mais afectada.
Concluímos que características como o tempo de prática, a idade e as cargas de treino parecem aumentar não só a prevalência de lesão, como o risco de sofrer lesão nos ginastas.
A especificidade das modalidades gimnícas requerem um conhecimento e um envolvimento pormenorizado do fisioterapeuta nesta área, onde a intervenção precoce, o tratamento dirigido às necessidades do ginasta e da modalidade e a detecção de factores de risco, são o sucesso para o tratamento e prevenção de lesões.